segunda-feira, 25 de novembro de 2019

Remoção de manchas em pedra natural

Parte 1
Porosidade e tratamento



Um dos problemas que nos são colocados com frequência prende-se com as manchas que vão aparecendo na pedra natural e nos materiais cimentícios. Neste artigo abordaremos esta problemática, apontando soluções que podem ser usadas em casa. Mas primeiro vamos tentar perceber porque mancham as pedras naturais.

Porque mancham as pedras naturais 

Tipos de rochas

No artigo anterior mencionámos o ciclo da formação das rochas. Antes de continuar, talvez fosse boa ideia ler esse artigo para melhor compreender o que iremos falar em seguida. Em suma, as rochas naturais formam-se por meios vulcânicos, por metamorfose e por sedimentação. No primeiro caso, o magma expelido ou no interior de bolsas na crosta terrestre ou do manto arrefece com maior ou menor velocidade dependendo da sua exposição aos elementos. Os minerais que a constituem consistem em corpos naturais sólidos e cristalinos formados em resultado da interação de processos físico-químicos nestes ambientes geológicos. 

Cada mineral é classificado e denominado não apenas com base na sua composição química, mas também na estrutura cristalina dos materiais que o compõem. Em resultado dessa distinção, materiais com a mesma composição química podem constituir minerais totalmente distintos em resultado de meras diferenças estruturais na forma como os seus átomos ou moléculas se arranjam espacialmente como, por exemplo, o carbono e o diamante. Resumindo, e em linguagem mais compreensível: minerais são cristais, sejam eles sais ou silicatos, elemento principal da constituição das rochas naturais.

Geod
Geod de ametista
O arrefecimento lento no interior da crosta terrestre produz cristais de maior dimensão, porque o realinhamento molecular dá-se de forma mais lenta. Na imagem podemos observar um geod. Geod é uma rocha em forma de bolha. No seu interior ficaram aprisionados gases quentes originados por atividade vulcânica ou magmática. O arrefecimento lento no interior do magma percutiu a produção de cristais de grande dimensão;

o arrefecimento mais rápido no exterior produz uma cristalização de menor dimensão pois esses realinhamentos não têm tempo de se dar.  É o caso da maioria dos granitos. Mesmo nestes é possível discernir granulometrias cristalinas muito distintas.




As rochas metamórficas resultam das mutações e realinhamentos dos cristalinos em resultado de pressões e temperaturas elevadas no interior da crosta. Os mármores e os xistos são rochas metamórficas, as primeiras de composição complexa variável, a segunda de mono mineral, resultando em alinhamentos diferenciados das moléculas ou cristais no primeiro caso e alinhamento unidirecional no segundo.

No mármore é possível distinguir uma complexa organização multidirecional dos cristais.














No xisto a sua aparência sugere um linhamento unidirecional dos cristais.














As rochas sedimentares são formadas por processos de litificação, resultam de depósitos massivos de sedimentos minerais e orgânicos (cálcio) no fundo de lagos ou oceanos que com a pressão e as movimentações da crosta vão consolidando, formando uma rocha.









Todas as rochas destes três grandes grupos têm graus diferentes de porosidade. 

Porosidade

Porosidade e permeabilidade são propriedades da pedra natural que resultam, como vimos, de processos geológicos. Na ausência destas propriedades, a aparência do ónix, granito, mármore, quartzite e outras pedras naturais seria completamente distinta e talvez não fossem visualmente tão apelativas.

Em suma, porosidade refere-se aos espaços vazios em superfícies. A porosidade pode ser medida de várias formas, e pode ser expressa como uma percentagem ou como uma fração entre 0 e 1. Alguns tipos de pedra natural são mais porosos que outros. Por exemplo, a pedra calcária é muito porosa quando comparada com a quartzite, e o granito é menos poroso que o mármore. Para entender melhor a porosidade natural do granito é útil compreender o seguinte: 

1-Granito é uma rocha vulcânica

A composição base do granito inclui quartzo, mica e feldspato, entre outros minerais em menor escala. No seio da crosta Terrestre, o granito forma-se a grandes profundidades sob as camadas sedimentares, mas ascende eventualmente para perto da superfície e pode ser extraído em pedreiras em regiões montanhosas que são orogénicas por natureza, ou seja estão muito acima do leito marítimo. O granito é também metamórfico, o que significa que passa por alterações causadas por reações químicas que estão na génese da sua ascensão à superfície através de fendas na crosta antes dos processos de assentamento e posicionamento. Todas as rochas vulcânicas (também designadas por: ígneas ou magmáticas) são porosas e o granito não constitui exceção. 

2-O granito é menos poroso que o mármore

Cada poro na superfície de lajes de granito é considerado um vazio microscópico. A dimensão destes ínfimos veios, em conjunto com a sua contagem por área de superfície, determina o nível de porosidade. Como mencionado acima, o granito é de origem vulcânica, o que faz com que seja menos poroso que rochas sedimentares, como a pedra calcária, o travertino, o moleanos, etc… No caso do mármore, que é metamórfico bem como sedimentário, a porosidade pode ser significativamente mais alta por comparação com o granito, num rácio de até 2%. A maioria dos blocos de granito apresentam rácios de porosidade entre 0,4 a 1,5 porcento. 

3- As rochas sedimentares são as mais porosas

Acima mencionámos que o mármore é uma rocha metamórfica e sedimentar. A explicação desta
afirmação está na formação do granito. De facto, o mármore é formado a partir de rocha sedimentar que, pela movimentação das placas tectónicas, penetra na crosta terrestre (subdução) a grandes profundidades e, pela sujeição a pressões intensas e temperaturas elevadas, sofre uma redistribuição e combinação dos cristais originando uma rocha nova, que pelos mesmos processos, mas no sentido ascendente, aflora à superfície ou perto dela e pode ser extraída em pedreiras.

Feita esta explicação, vejamos como se formam as rochas sedimentares (ou detríticas): em geral são formadas por deposição de detritos e sedimentos provenientes da erosão de rochas-mãe e detritos orgânicos, cascas de bivalves entre outros animais com exoesqueleto, e cianobactérias, que são arrastados por força de correntes fluviais, por glaciares ou correntes marítimas para áreas de maior profundidade do leito fluvial ou marítimo, em geral coincidentes com as limites das placas tectónicas. Esta deposição continuada ao longo de milhões de anos forma mantos de grande espessura que se vão consolidando por um fenómeno designado de litificação. 

Estas rochas são constituídas por vários elementos: 

os balastros: detritos de maior dimensão que podem ser seixos, por exemplo;
areias: detritos de menor dimensão, provenientes de erosão de elementos maiores como os balastros, por exemplo;
siltes: partículas de dimensão diminuta (entre 1/16 e 1/256 mm); 
argilas: materiais de dimensões reduzidas (inferiores a 1/256 mm), finos e pulverulentos, onde predominam os chamados minerais de argila.

As diversas combinações destes materiais determinam o tipo de rocha, a sua porosidade e aspeto. 

4-Rochas calcárias

Os calcários, na maioria das vezes, são formados pela acumulação de organismos inferiores (por exemplo, cianobactérias) ou precipitação de carbonato de cálcio na forma de bicarbonato, principalmente em meio marinho. Também podem ser encontrados em rios, lagos e no subsolo (cavernas).

No caso do calcário quimiogénico, a formação é em meio marinho: a calcite (CaCO3), é um mineral que se pode formar a partir de sedimentos químicos, nomeadamente iões de cálcio e bicarbonato. Isto acontece quando os meios marinhos sofrem perda de dióxido de carbono (devido a forte ondulação, ao aumento da temperatura ou à diminuição da pressão). Deste modo, para que os níveis de dióxido de carbono que se perdeu sejam repostos, o equilíbrio químico passa a tender no sentido de formação de CO2, o que leva a formação de calcite e precipitação desta que, mais tarde, depois de intensa deposição e de diagénese dá origem ao calcário.

A porosidade deste tipo de rochas varia entre os 3 a 7 porcento da sua superfície.

Muito mais haveria a dizer sobre a porosidade das rochas. Porém, foge do âmbito deste artigo. Para que fique uma ideia da porosidade das diversas rochas vejamos a seguinte tabela: 

Outro conceito que é útil compreender no âmbito deste artigo é a permeabilidade das rochas. Podendo aparentemente parecer semelhante à porosidade, há uma distinção:

Permeabilidade é um conceito relacionado com a porosidade, mas não é a mesma coisa. Permeabilidade é a capacidade que um dado material tem para transmitir fluidos. Os fluidos são transmitidos por poros e capilaridades, neste caso da rocha.

Portanto, se um material é poroso e permeável, tem maior capacidade de absorver líquidos que outros materiais. Isto pode ser bom para a pedra em alguns aspetos: os pequenos poros são excelentes na filtração da água! Mas não é bom quando o tampo da bancada da sua cozinha ou o seu pavimento está a absorver água e líquidos acídicos, que podem enfraquecer ou dissolver a pedra em questão e originar fragmentação ou quebra! Já para não falar nas terríveis manchas resultantes! 

Como vimos, o granito é muito pouco poroso (ver tabela acima) quando comparado com outros materiais, no entanto tem porosidade suficiente para absorver líquidos. As pedras calcárias e arenitos são altamente porosos e absorvem líquidos com grande rapidez, e são muito fáceis de riscar e de desgastar em contacto com ácidos. O mármore é, também, bastante poroso, embora menos que as pedras sedimentares. As manchas são um grande problema a enfrentar nestes materiais, especialmente resultantes de líquidos com pigmento, como os vinhos tintos. Uma grande mancha vermelha é algo que pretenderá seguramente evitar no seu pavimento ou tampo de mármore branco!

Proteger os poros e capilaridades

Como proteger pavimentos, tampos e capeamentos? Usando hidrofugantes. Noutro artigo já abordámos esta temática. Fica claro que é primordial a hidrofugação de tampos e lajes de pedra natural para que os poros sejam fechados, criando uma barreira que previne a absorção de líquidos e partículas de alimentos, bem como de manchas e de riscos e sulcos. Existem muitos hidrofugantes disponíveis no Mercado, mas todos se enquadram em duas categorias:

Hidrofugantes tópicos:

-Assentam na superfície de contacto da pedra, prevenindo a penetração de líquidos e partículas de alimentos.
-Imprimem, em geral, brilho, com maior ou menor intensidade e podem alterar a cor da pedra ou escurecer.
-Previnem os riscos na superfície da pedra, no entanto os hidrofugantes suportam todos estes danos. O tratamento pode ser recuperado pela decapagem e nova aplicação. Previnem as manchas e nódoas.
-Podem prender humidade no seio da pedra, pois este tipo de hidrofugantes não permite a transpiração.
-Desgaste rápido, dependendo da intensidade e tipo de tráfego na superfície. Podem ter de ser reforçados cada 6 meses a 1 ano.
-São mais adequados para pedras porosas e moles tipo calcários e arenitos.

Hidrofugantes impregnantes:

-Penetram na estrutura da pedra e preenchem os poros no interior da pedra.
-Previnem a penetração de líquidos e a sua absorção para o interior da pedra.
-Não afetam a cor da pedra.
-Não protegem a superfície de contacto de riscos e sulcos.
-Não aprisionam a humidade no interior da pedra, permitem a “transpiração” da pedra.
-Em geral, mais dispendiosos que os tópicos.
-Formam uma ligação química mais ou menos permanente com a pedra que pode durar por anos. Não necessitam ser aplicados com frequência, principalmente os de base em silicatos.

Hidrofugantes tópicos e impregnantes podem ser usados em combinação, embora seja importante reforçar que os hidrofugantes tópicos têm de ser reaplicados regularmente para serem eficazes. Para testar a efetividade do tratamento, deixe cair umas gotas de água sobre a superfície tratada e aguarde alguns segundos. Se a água for absorvida é necessária nova hidrofugação. Se a água se mantiver coesa na superfície, o tratamento está completo. 

Poros e capilaridades são elementos integrantes de todas as pedras naturais e é preciso estar consciente que é fulcral serem fechados para proteger a integridade estrutural do seu pavimento, capeamento ou tampo.  Hidrofugação não é negociável e é algo que se pode fácil e rapidamente fazer em casa. 

Se não se sentir seguro sobre que hidrofugação fazer, que hidrofugante escolher, recorra a profissionais para o fazer. Para isso pode contar com a Blueish Green! Contacte-nos!


terça-feira, 12 de novembro de 2019

Sobre limpezas profundas em pavimentos de pedra

A crosta terrestre possui várias camadas compostas por três grandes grupos de rochas que são formadas pela mistura de diferentes materiais. Essas rochas podem ser magmáticas, também chamadas de ígneas, sedimentares ou metamórficas.

Rochas magmáticas ou ígneas

As rochas magmáticas ou ígneas (ígneo vem do latim e significa "fogo") são originadas do interior da Terra, onde são fundidas em altíssima temperatura. Nas erupções de vulcões, essas rochas são lançadas do interior da Terra, para a superfície em forma fundida (magma). Sofrem, então, arrefecimento rápido e solidificam. Outras vezes, ficam nas proximidades da superfície, onde arrefecem lentamente e, também, se solidificam, formando cristais maiores (ex. granito).

Rochas sedimentares

Esse tipo de rocha é chamada rocha sedimentar por ser formada a partir de mudanças ocorridas noutras rochas. Chuva, vento, água dos rios, ondas do mar: tudo isso vai, aos poucos, fragmentando as rochas em grãos de minerais. Pouco a pouco, ao longo de milhares de anos, até o granito mais sólido se transforma em pequenos fragmentos. Esse processo é designado por erosão. Esses fragmentos de rochas são transportados pelos ventos ou pela água da chuva até aos rios, que, por sua vez, os levam para o fundo de lagos e oceanos. Aí os fragmentos vão-se depositando em camadas. É assim que se formam, por exemplo, terrenos cobertos de areia, como as praias.

Esses fragmentos ou sedimentos vão-se acumulando ao longo do tempo. As camadas de cima exercem pressão sobre as camadas de baixo, compactando-as. Essa pressão acaba por agrupar e cimentar os fragmentos e endurece a massa formada. É assim que surgem as rochas sedimentares. Tudo isso leva milhões de anos. Este processo é designado por litificação.

É por este processo que a areia da praia se transforma lentamente em rocha sedimentar chamada arenito. Sedimentos de argila transformam-se em argilito.

As camadas vão cobrindo também restos de plantas e animais arrastados por processo semelhante, entre outros, para os leitos de lagos e oceanos. Por isso é muito comum encontrar restos ou marcas de animais e plantas em rochas sedimentares: o animal ou planta morre e é coberto por milhares de grãos de minerais. Afloramentos calcários consistiram Há milhões de anos em fundos de rios, lagos ou mares onde, pela ação das correntes, se foram depositando detritos, sedimentos e cascas de crustáceos, moluscos, etc. 

O calcário

A acumulação de esqueletos, conchas e carapaças de animais aquáticos ricos em carbonatos de cálcio, que é um tipo de sal, pode formar outra variedade de rocha sedimentar, o calcário. 

Rochas metamórficas

O mármore é uma rocha formada a partir de outra rocha, o calcário. É um exemplo de rocha metamórfica. As rochas metamórficas são assim designadas porque são originadas pela transformação de rochas magmáticas ou sedimentares por processos que alteram a organização dos átomos dos seus minerais. Surge, então, uma nova rocha, com outras propriedades e, às vezes, com outros minerais. Muitas rochas metamórficas são formadas quando rochas de outro tipo são submetidas a intensas pressões ou elevadas temperaturas. Quando, por exemplo, por mudanças ocorridas na crosta, uma rocha magmática é empurrada para regiões mais profundas e de maior pressão e temperatura, alterando a organização dos minerais. O xisto é um bom exemplo de rocha metamórfica de origem magmática. É fundamentalmente formada por barros expelidos por erupções que posteriormente, por ação das movimentações da crosta, foram sujeitos a elevadas pressões e temperaturas, modificando a constituição e alinhamento molecular. Ao contrário dos mármores, é uma rocha mono mineral. 

A rocha Moca creme

Esta é uma rocha sedimentar, calcária, de cor bege, grosseiramente calciclástica e abundantemente bioclástica. Significa isto que na sua composição abundam fragmentos biológicos. É, portanto, uma rocha rica em carbonatos de cálcio na sua composição. São-no, aliás, todas as rochas sedimentares em graus variáveis de acordo com a volumetria dos sedimentos minerais e biológicos que as compõem. É extraída na região da Serra dos Candeeiros (maciço calcário Estremenho). É uma variedade de vidraço Moleanos, de cor creme, com grão fino e fundo uniforme. Pode apresentar uma superfície serrada a favor ou contra (onde apresenta vergada). Tem grau de dureza 3 na escala de Mohs. É considerada uma pedra mole”.
É a pedra calcária mais conhecida internacionalmente.

Características

No processo de litificação, a presença de abundantes resíduos biológicos que se decompõem com o tempo, associada ao facto da rocha ser também composta por sedimentos de outras rochas, deixa poros na rocha assim formada, frequentemente filiformes. Essa característica imprime uma grande capacidade de absorção de líquidos. Essa propriedade é chamada de porosidade que, nesta rocha se situa entre 7 a 11% da sua massa. 
Por ser uma rocha de origem sedimentar é, por natureza, menos densa que as dos outros dois tipos de rocha e menos resistente ao impacto, desgastando-se com bastante facilidade com o tempo e uso.

Aplicações

Apesar de ser aplicada como revestimento em pavimentos, a sua aplicação como tal não é recomendável. Destina-se, sobretudo, a acabamento de paredes ou peças de mobiliário. A aplicação como revestimento de pavimentos implica sérios riscos de danos pelo uso e por deficiente ciclo de manutenção. Em primeiro lugar, uma rocha com estas características deveria ser sempre protegida com um hidrofugante impregnante ou tapa-poros e/ou acabada por processos de recristalização – vulgo vitrificação ou, em alternativa, um hidrofugante com película (anti mancha). Infelizmente isso não acontece na grande maioria dos casos e os resultados são evidentes. Envelhecimento precoce da pedra, incrustações nos poros que são aumentados pelo uso, aplicação de hipocloritos de sódio na sua limpeza e de ácidos para eliminar incrustações. Quer os solutos altamente alcalinos quer os ácidos provocam danos nos ligamentos dos carbonatos de cálcio, desagregando-os e provocando erosão precoce da pedra.