quarta-feira, 1 de janeiro de 2014

Salitre e eflorescências – causas e prevenção III


Origens da humidade

Como atrás discutido, o mecanismo da eflorescência depende da presença de água livre na alvenaria para dissolver os sais solúveis disponíveis. Enumeram-se algumas origens da água livre nos parágrafos seguintes:

Água da chuva: A primeira origem da humidade na ocorrência das eflorescências é a água da chuva que penetra e fica em contacto com a alvenaria. A água da chuva irá penetrar todas as paredes de alvenaria até um certo grau, especialmente se tiverem sido incorretamente projetadas ou pormenorizadas. A mão-de-obra empregue na construção de uma parede em alvenaria também vai ter um efeito significativo na quantidade de água que penetra nessa parede. Alvenarias de tijolo com assentamento caracterizado por juntas parcialmente preenchidas, marcação profunda dessas juntas ou execução defeituosa de peças de remate ou de ligação metálicas, estarão mais sujeitas à penetração pela chuva.

Condensação: Além da água da chuva e do solo, pode-se acumular água dentro das paredes como resultado da condensação de vapor de água. Frequentemente, a eflorescência que aparece nas paredes de alvenaria protegidas contra a chuva é devida a esta acumulação de água condensada.

A condensação é geralmente consequente de humidades originadas no interior dos edifícios. O ar frio exterior, que entra num edifício e que é aquecido por questões de conforto, é geralmente de baixo conteúdo em humidade. Humidades provenientes da cozinha, dos banhos e de outras operações que empregam água ou vapor, e humidades libertadas pela respiração e pela transpiração dos ocupantes, humidificam este ar. Este ganho em teor de humidade aumenta a pressão do vapor do ar interior substancialmente acima do que existe fora das portas. Esta pressão crescente tende para conduzir o vapor para fora do edifício através de quaisquer materiais permeáveis ao vapor que componham as paredes periféricas.

Quando o vapor passa através de materiais porosos e homogéneos, que podem estar quentes de um lado e frios do outro, pode passar através de zonas à temperatura do seu ponto de condensação.

Mas, se o fluxo de vapor for travado, por superfícies resistentes ao vapor a uma temperatura abaixo do seu ponto de condensação, o vapor condensará sobre tais superfícies frias. Esta humidade de condensação pode contribuir para a eflorescência na superfície das paredes.

Construção: Outra fonte de humidades que podem causar “flores da construção nova” e contribuir para a ocorrência da eflorescência num edifício é a água que entra no conjunto durante a sua edificação. A imprópria proteção de um edifício durante a construção pode contribuir significativamente para problemas futuros, eflorescências incluídas. É neste ponto, quando as partes interiores estão expostas, as juntas abertas e materiais estranhos presentes na obra, que a construção fica altamente vulnerável à entrada de consideráveis quantidades de humidade. Também, em certos casos, alguns sais solúveis adicionais de outras origens podem contaminar o assentamento da parede de alvenaria.

Outras manchas

Além das mais comuns eflorescências brancas atrás discutidas, podem aparecer ocasionalmente nas superfícies das estruturas de alvenaria algumas manchas. É o caso dos depósitos de carbonato (“escorridos de cal”), depósitos de silicatos (“espuma branca”), “manchas verdes” e “manchas castanhas”.
Depósitos de carbonatos (Escorridos de cal): Os depósitos de carbonatos, se ocorrerem, aparecem geralmente com uma cor cinzenta esbranquiçada, semelhantes a uma crosta com a forma de “escorrimento para baixo” vertical sobre a face da parede. Estes depósitos são por vezes referidos como “escorridos de cal”. Na realidade isto não é correto e pode ser desorientador, já que o “escorrido de cal” não é diretamente uma consequência da cal da argamassa. Os depósitos de carbonato aparecem quase sempre num pequeno furo da face da alvenaria.
 
Os mecanismos deste tipo de manchas não são claramente conhecidos, mas são frequentemente comparados com a formação de estalactites em cavernas de calcário. É evidente que este tipo de depósito / mancha requer uma grande quantidade de água encaminhada por uma passagem comum durante um largo período de tempo. A água toma conta de qualquer dos compostos de cálcio por dissolução, e transporta-o para a superfície da alvenaria através do furo. A origem dos compostos de cálcio pode ser a ornamentação, a argamassa, o enchimento, etc. À superfície, pensa-se que a solução reage com o dióxido de carbono do ar, formando assim a crosta depositada.
 
Estas, manchas de carbonatos podem ser removidas usando-se uma solução fraca de ácido clorídrico, aplicada diretamente ao depósito. Deve ser dada atenção ao correto humedecimento prévio da área de parede antes da aplicação, e ao seu abundante enxaguamento após a limpeza. Isto é particularmente importante quando se removem depósitos de carbonato em tijolos de cor clara. É provável que o depósito reapareça a não ser que a origem da água seja eliminada.
 
Depósitos de silicatos (espumas): Os depósitos de silicatos, por vezes chamados de “espumas”, aparecem por vezes como uma descoloração geral branca ou cinzenta na face da alvenaria de tijolo. A descoloração pode ocorrer sobre toda a face da alvenaria ou, por vezes, em localizações específicas com 9 a 19 m2 de área de formas irregulares. Os depósitos/manchas de silicatos também podem ocorrer adjacentes a elementos de ornamentação, de betão pré-fabricado e, ocasionalmente, de largas extensões em vidro.
 
Estes depósitos de silicatos na alvenaria de tijolo não devem ser confundidos com a “espuma” que ocasionalmente aparece no tijolo durante o seu processo de fabricação. Esta última “espuma” torna-se evidente nos tijolos armazenados antes de serem assentes na parede.
É sabido que existem numerosos mecanismos que podem fazer precipitar depósitos de silicato nas alvenarias de tijolo. São especificamente químicos, contudo, isso não é totalmente evidente. Muitas destas manchas estão relacionadas com a limpeza da alvenaria de tijolo com soluções de ácido clorídrico, especialmente se os adequados procedimentos de limpeza não forem cuidadosamente observados, ou seja, abundante humedecimento prévio da parede, método de aplicação da solução de limpeza e abundante enxaguamento da parede com água limpa.
Os depósitos de silicatos são muito difíceis, senão impossíveis, de remover das alvenarias de tijolo. Eles são insolúveis na maioria dos ácidos. Frequentemente, o único método prático de lidar com o depósito de silicatos é disfarçá-lo e permitir que a exposição ao clima o vá removendo com o tempo.
Vanádio (Manchas verdes ou amarelas): Alguns produtos estruturais cerâmicos desenvolvem sais eflorescentes verdes ou amarelos quando ficam em contacto com a água. Estas manchas são usualmente sais de vanádio. Podem ser encontradas em produtos cerâmicos vermelhos, camurça ou brancos; no entanto, eles são muito visíveis e mais rapidamente aparentes nas unidades de cor clara. Os sais de vanádio responsáveis por estas manchas têm a sua origem nas matérias–primas usadas no fabrico dos produtos cerâmicos. As manchas verdes e amarelas são geralmente sais de vanádio, consistindo em sulfatos e cloretos, ou hidratos destes sais. Os mecanismos deste tipo de manchas são os seguintes : conforme a água viaja através do tijolo, dissolve quer os óxidos quer os sulfatos de vanádio. Neste processo, a solução pode tornar-se um pouco ácida. Conforme a solução evapora da superfície do produto, os sais ficam depositados.
Os sais clorados de vanádio requerem soluções absorventes altamente ácidas, e são geralmente o resultado de lavagens da alvenaria com soluções de limpeza ácidas. O cloreto de vanádio, um dos mais importantes compostos que mancham, forma-se quase exclusivamente como resultado de lavagens com ácido clorídrico. Conforme afirmado por Brownell : “É necessária uma condição altamente ácida na água que atravessa um tijolo para que se produzam os sais coloridos de vanádio”.
Manganês (manchas castanhas): Sob certas condições podem ocorrer manchas cor de mel ou castanhas, por vezes cinzentas, nas juntas das alvenarias. Ocasionalmente, a mancha castanha irá escorrer pelas faces do tijolo. Este tipo de mancha é o resultado do uso do dióxido de manganês como agente corante nas unidades. Este problema de mancha está proximamente relacionado com o problema geral da eflorescência, já que são os sais sulfatados e clorados de manganês que viajam para a superfície do tijolo e ficam depositados nas juntas de argamassa.
Durante o processo de cozedura do tijolo, os agentes corantes de manganês sofrem diversas transformações químicas, produzindo compostos de manganês que são insolúveis na água, mas que têm diversos graus de solubilidade em ácidos fracos. Conforme anteriormente referido, podem aparecer soluções ácidas nos tijolos de uma parede. Por outro lado, os tijolos podem absorver ácido clorídrico durante o processo de limpeza da alvenaria. É também possível que em certas áreas a água da chuva fique ácida (T.J. Minnick, “Effect of Lime on Characteristics of Mortar in Mansonry Construction”, Bulletin, American Ceranic Society, 38, 1959).
De acordo com Brownell : “As soluções de sulfato ou de cloreto de manganês do tijolo vão migrar através das juntas de argamassa especialmente durante um período de secagem. Estas soluções ácidas de manganês irão ser neutralizadas pela natureza inerentemente básica da argamassa. Durante a neutralização, precipita-se hidróxido de manganês insolúvel nas juntas de argamassa, o qual se converte em Mn3O4 na secagem”.
(continua)