terça-feira, 5 de novembro de 2013

Salitre e eflorescências – causas e prevenção I


O termo SALITRE não traz normalmente boas recordações. Aquelas eflorescências brancas que teimam em sair dos tetos, paredes e chão, significam a presença de humidade. Humidade que tudo destrói. Em geral não sabemos como solucionar o problema ou imaginamos grandes obras de fundo em casa com as consequentes infiltrações de pó por todo o lado. Enfim, é um problema sobejamente conhecido mas cuja essência escapa à nossa compreensão.

 

Em alguma ocasião, todos nos apercebemos que na generalidade das paredes exteriores e algumas interiores, usualmente junto ao solo, ao fim de algum tempo após a pintura, a tinta se solta em lâminas pequenas ou grandes que, com o avançar do tempo, acabam por se desprender e cair.

O mesmo acontece com pavimentos ou revestimentos cerâmicos ou outros, que sendo ou não vidrados têm um comportamento idêntico ou seja, ao fim de algum tempo começam por “esfarelar” ou, se tratados com produtos impermeabilizantes tópicos, ceras, vernizes ou tintas, a camada que formam começa por soltar-se e mais tarde acaba por aparecer um pó solto, constatando-se que estes materiais se estão a degradar superficialmente.
 
 


 



Normalmente quando consultado o construtor ou o pedreiro que executou a obra, ouvimos invariavelmente a mesma resposta:
- É salitre provocado pela humidade e pelas areias contaminadas com sal do mar que foram utilizadas na argamassa.
Com esta resposta estão a afirmar em simultâneo que as areias adicionadas ao cimento estavam contaminadas com sal e que a responsabilidade deste fenómeno negativo não é sua, porquanto, que não sabem a origem das areias em causa e não têm processo de avaliar a quantidade de sal que as areias possam ter na sua constituição.
Nada mais errado que atribuir ao sal (cloreto de sódio) a principal origem de tal fenómeno químico.
É, também, vulgar atribuir aos materiais de revestimento uma qualidade inferior para explicar tal fenómeno. Outro erro.
Sendo certo que os sais incorporados na água de amassadura ou nas areias não contribuem para este fenómeno, ou fazem-no de forma reduzidíssima, importa perceber então qual a origem do problema.
Analisemos, então, este fenómeno!
Na generalidade das obras é utilizado o Cimento Portland e muito poucas pessoas, incluindo inúmeros técnicos de construção, sabem da existência de um outro cimento que é o Cimento Pozolânico, embora este exista desde a Antiguidade Clássica (Egipto, Síria, Grécia e Roma) e mesmo de tempos mais remotos nomeadamente na cidade de Jericó onde existem argamassas com cerca de 9.000 anos, ainda em serviço e em excelente estado de conservação.
Ora, o Cimento Portland é um cimento com elevado calor de hidratação e tem na sua constituição a Alite ou Alita (C3S) que é a principal constituinte deste cimento (50 a 70% na fase cristalina). Alite é uma designação para silicato tricálcico (Ca3SiO5), por vezes formulado como 3CaO·SiO2 (C3S na notação química docimento, CCN). É a maior, e característica, fase mineral no cimento Portland. O nome foi atribuído por Törneborn em 1897 a um cristal identificado em investigação microscópica do cimento Portland. Alite ou alita é uma designação de uso comum na indústria de cimento, embora não seja uma designação mineral reconhecida.
De forma simples e sucinta, tendo presente o objetivo deste artigo, pode-se descrever o fenómeno da seguinte forma:
Nos “maciços” (grandes massas de betão) subterrâneos e nas paredes constituídas por argamassa de betonilha, quando constituídos por argamassas de cimento Portland, sujeitos à presença de água, desenvolve-se a seguinte reação química:
 
A água dissolve o hidróxido de cálcio Ca(HO)2 constituinte do cimento, que se liberta através dos poros e este ao chegar à superfície reage com o anidrido carbónico contido no ar dando origem a eflorescências de Carbonato de Cálcio (CaCO3), reduzindo a pó a camada superficial do material exposto.
Eflorescências, o que são
A eflorescência é um depósito cristalino de sais solúveis em água sobre a superfície da alvenaria. A principal objeção à eflorescência é a sua aparência antiestética. Apesar da eflorescência ser antiestética e uma dor de cabeça para ser removida, é usualmente inofensiva para a alvenaria de tijolo.
A eflorescência é usualmente de cor branca; alguns compostos de vanádio e de molibdénio, presentes em certas peças cerâmicas, podem produzir um depósito verde, vulgarmente referido como “manchas verdes”. Ocasionalmente, podem ocorrer “manchas castanhas”, resultantes de depósitos de compostos de manganês.
Sob certas condições e circunstâncias específicas, é possível aos cristais das eflorescências formarem-se no interior das peças. Quando isto sucede, é possível que a pressão de cristalização e de crescimento dos cristais possa causar fissurações e danos nas alvenarias.
Mecanismos da eflorescência
Os mecanismos da eflorescência são muitos e frequentemente complicados. No entanto, explicando com simplicidade, os sais solúveis em água que estejam em solução, são trazidos à superfície da alvenaria e depositados nela por evaporação. As soluções salinas podem migrar através das superfícies das unidades, entre a argamassa e as unidades, ou pela estrutura porosa quer da argamassa quer das unidades da alvenaria.
Há certas condições simultâneas que devem estar em presença para que se dê a ocorrência da eflorescência. Os sais solúveis devem estar presentes no interior ou em contacto com o objeto de alvenaria. Estes sais podem estar presentes nas unidades aparentes, nas unidades do interior das alvenarias espessas, nos componentes da argamassa, nos ornamentos, etc. tem também de existir uma fonte de água em contacto com os sais durante o tempo suficiente que permita a dissolução dos mesmos. A alvenaria deve estar de tal forma que a migração das soluções salinas para a superfície, ou para outras localizações, ocorra num ambiente que seja indutor da evaporação da água.
Pelo exposto, torna-se aparente que se a alvenaria for construída por forma a não conter sais hidrossolúveis, ou a não permitir que seja penetrada pela água, as eflorescências não deverão aparecer. No entanto, nas alvenarias convencionais expostas ao tempo, nenhuma destas condições pode ser cumprida. Consequentemente, a maneira mais prática para a eliminação das eflorescências é reduzir todos os fatores contributivos ao mínimo.
(continua)